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segunda-feira, 9 de maio de 2011

NOTAS E COMENTÁRIOS

I

DESLEALDADE

GOVÊRNO algum, em parte alguma, dá tanto valor ao aniversário de uma administração; e dos Estados brasileiros só o Piauí se vale do estardalhaço, da ostentação ruidosa para o festejo que mortifica os cofres públicos dessangrando o Tesouro. Quanto pagou ou vai pagar a terra de Mafrense por páginas e páginas de propaganda no "Estado do Piauí" que estampou cêrca de dois metros de publicidade? E a propaganda radiofônica? Por quanto vai ser paga?

CONFESSO que não desejaria tratar dêsses assuntos, mas o órgão "Estado do Piauí", redigido em Carnaque, por alguém que me vota antipatia e ódio, no seu chamado artigo de fundo, publicou o seguinte, com referência à passada administração:

"... à dilapidação das verbas federais destinadas a execução de obras sob o regime de convênio, como aconteceu no Colégio Estadual do Piauí - onde não foi aplicado um centavo sequer do Estado - o Governador Chagas Rodrigues procurou restaurar a austeridade, adotando, por vezes, providências enérgicas, mas indispensáveis, embora desvirtuadas, em seu sentido, em campanhas de imprensa de certos interessados em manter-se em situações ilegais, incompatíveis com o dêcoro minímo do Poder Público".

O ARTIGO de que extrai o trecho acima foi escrito em Carnaque, certamente, porque, segundo li no Diário Oficial, o Govêrno possui Secretario de Imprensa na pessoa do Sr. Ofélio Leitão; além disso, os deputados do PTB e o Sr. Josípio Lustosa, aquêles diretores e este proprietário do órgão, têm afirmado, públicamente, que o jornal é orientado e redigido por Carnaque.

A PARTE transcrita me diz respeito porque era eu Diretor do Colégio Estadual do Piauí na administração do Sr. Gayoso e Almendra. Demais, não sou autor de campanhas como interessado em manter-me em situação ilegal; escrevi artigos de imprensa esclarecendo a situação jurídica de 07 professores vitalícios exonerados pelo Governador Chagas Rodrigues. Com meus colegas, fui reintegrado pelo Judiciário, logo é bem de ver que a situação já não tem ranço algum de ilegalidade.

NO TOCANTE a dilapidação de dinheiros públicos no Colégio Estadual, não passa de perversidade o que se publicou. Prestei publicamente conta de oitocentos e cinqüenta e cinco contos, destinados àquele educandário pelo govêrno federal. Nunca toquei num real dessa importância: todos os fornecedores e contratantes receberam pagamento na Secretaria das Finanças, com recibos visados pelo integro contador Tancredo Serra e Silva e pelo Secretário Joel Mendes. Do dinheiro não se furtou um tostão, como pode atestar ainda o Sr. Alcides Lebre, atual Secretário do Colégio Estadual. Em carta ao Sr. Ofélio Leitão, publicada em novembro de 1959, transcrevi tôda a documentação relativa a êsse dinheiro. Aliás, não assinei contrato nem convênio para a sua aplicação. O convênio ou contrato foi lido por mim já no atual govêrno, e está firmado pelo General Gayoso e pelo Sr. Gildásio Amado. Se o Estado não entrou com a sua parte, culpa alguma me cabe. Ainda posso invocar aqui, a respeito da aplicação dêsse dinheiro, o testemunho do ilustre Secretário Paulo Ferraz e do engenheiro Luís Walmor Barbosa de Carvalho, êste último responsável por soma vultosa, cêrca de trezentos contos, a que deu destino leal e legal, honestamente com rigorosa prestação de contas.

ESSES jornalistas oficiais proclamadores de austeridade são austeros na medida da suas fôrças, assim:

1) o dr. Raimundo de Brito Melo percebe dos cofres públicos, com pessoas da família que empregou em cargos de vencimentos superiores a doze mil cruzeiros, mais de cem mil cruzeiros.

2) o sr. Audir Rebêlo, sem nunca houvesse trabalhado em serviço de lepra, contou em dôbro o tempo de serviço com a alegação de que trabalhou no serviço de lepra. E austero ainda, ganha como Consultor Jurídico da Secretaria de Educação, parece que Cr$ 20.500,00 por mês, sem trabalhar, e ganha no Palácio de Carnaque. A fôlha de janeiro de 1960 manda pagar mais de oito mil cruzeiros de decênios a êsse funcionário, ilegalmente.

3) para que os jornalistas oficiais sejam mais austeros, o Dr. Benjamim Monteiro Neto está afastado da Inspetoria do Ensino, ganhando, e ganha em Carnaque como Consultor Jurídico. Muito razoavelmente, sessenta mil cruzeiros mensais.

4) o dr. Ofélio Leitão é advogado do Banco do Brasil, é professor de Geografia do Colégio Estadual, afastado do cargo com percepção integral de vencimentos e ainda Secretário de Imprensa do Palácio do Govêrno.

IRIA eu longe, mas fico por aqui. Ganhar bem para xingar os outros, ofendê-los na sua dignidade, na sua honra, é muito cômodo. O governador Chagas Rodrigues que, apesar dos pesares, apesar dos insultos que recebo da sua imprensa desvirtuada e angustiada, ainda me merece, um dia se convencerá de que os seus conselheiros de austeridade só desejam austeridade para o lombo alheio. Está o governante cercado de endeusadores, o que é natural; o extraordinário é que o Sr. Chagas Rodrigues, inteligente e perspicaz, acredita nesse endeusamento.

ALIÁS podem os moços de Carnaque ganhar a mancheias, que o seu dinheiro lhes pertence e dêle não tenho inveja: ganhem, mas ganhem para tudo menos para a inverdade, para o aviltamento dos outros, para processos de imprensa injustos e indignos.

TENHO-ME conservado, no jornal, com integral respeito às autoridades constituídas. Mas as autoridades constituídas têm o dever de respeitar-me, principalmente na minha dignidade, que pode servir de pasto a irresponsabilidade, salvo se o govêrno proclamar que não tem responsabilidade.

CONVENHAM todos em que a Imprensa tem o dever da verdade. Faltará ela à sua missão tôda vez que espelha ódios pessoais, para satisfação de objetivos ocultos. Não me servi ainda do jornal para crítica severa, para a denúncia de subornos ou da sua tentativa, porque não quero que se diga que o meu jornalismo é indiscreto ou humilhante. Estou no jornal com o fim de advertir, ajudar, esclarecer - e minha imprensa só se tem servido da advertência e do esclarecimento. Se o govêrno for honesto e bem intencionado, como trombeteia, então que bata palmas, uma vez que exclusivamente de honestidade e boa intenção me tenho servido na Imprensa.

O GOVERNADOR Chagas Rodrigues - e a honra é sua - tem obrigação moral de nortear com dignidade o jornalismo palaciano - pois se o govêrno quer ter imprensa além da oficial - e o Diário Oficial já circulou com propaganda exaustiva e ilegal - pelo menos oriente a sua imprensa com o respeito, a serenidade, a justiça, convenientes a quem governa. Não é Sua Excelência governante de grupos, mas do Piauí. A sua autoridade se exerce sôbre todos, não particularmente sobre alguns. De minha parte, jamais contribuirei para quebrar os laços do respeito que devo ao Governador do Estado e aos que o auxiliam. Dêle e dos seus auxiliares espero êste tratamento. Se os animam o desejo de servir o Estado, dêsse mesmo desejo sou animado. Cada qual com suas idéias: as minhas não promanam de intêresses subalternos, e até prova em contrário quero crer quem meus semelhantes ajam pela mesma forma.

É TEMPO de cada jornalista, ou até de cada falso jornalista contribuir para a elevação dos métodos e processos da imprensa piauiense. Não me atemorizam xingamentos: xingado tenho sido a mais não poder. Nas ocasiões em que leio o xingamento desabrido, lembro-me daquele velho princípio de filosofia confuciana: repara no modo por que te trata o semelhante, e julga o semelhante.

MAIS UM APÊLO ao governador Chagas Rodrigues: a verdade não é propriedade de muitos ou de poucos. Ela é de todos, desde que todos a digam, desde que nenhum a deturpe. A idéia pertence aos que podem tê-la, discutí-la, firmá-la ou negá-la. Acolhe o xingamento quem não pode ter idéias nem se acompanha da verdade. E o Governador do Estado, Magistrado Supremo, não deve permitir se faça do seu governo o xingamento, para sepultar a verdade e esclarecer com isto que não pode ter idéias. E ninguém concorre ou pode concorrer mais para a elevação da cultura - e jornal é cultura, ou manifestação desta - do que o govêrno.

REDUÇÃO

Em ofício aos Secretários do Estado, o Governador determina que se reduza a 40% por cento dos vencimentos a gratificação de função, quando o titular do cargo de confiança perceba por dois lados: pelo cargo, em que não trabalha, e pelo pôsto de confiança.

Os Diretores da Normal e do Liceu vão ficar em Cr$ 1.200,00 mensais - é o que me informam.

NOVA EMISSORA

Péssima, no 1º dia. O locutor das 6 horas da tarde do dia 31 deve procurar, com urgência, o Dr. Natan: o coração do jovem está bombeando demais. Outro fato: essa rádio, em anúncio de jornal, está promovendo concurso de locutores. Pede que os candidatos sejam de preferência bacharéis em Direito ou Filosofia.

RICHARD

Richard tirou o 1º lugar num concurso para advogado de ofício. O govêrno nomeou o décimo colocado. Richard impetrou mandado de segurança. O govêrno agora demitiu o nomeado em caráter efetivo e nomeou o demitido em caráter interino. Compreenderam? O govêrno anulou, com isto, o concurso. Para que concurso?

BÔLSA DE VALORES

Não sei em que pé anda o mandado de segurança da Bôlsa de Valores. Vou conversar com essa inteligência chamada Celso Barros Coelho. O govêrno com uma lei, revogou outra, retirando prerrogativa da Bôlsa para nomear novos corretores. Êste o caso. Aí a Bôlsa impetrou a segurança, depois de muitas tentativas de contôrno. O govêrno nomeou novos corretores, mas a Bôlsa não acatou as nomeações. Vou conversar com Celso Barros, para adiantar contar.


A. Tito Filho, 04/02/1960, Jornal O Dia

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