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terça-feira, 26 de abril de 2011

ECOS E INFORMAÇÕES

1

Segunda-feira última, a Rádio Difusora, no programa de Dênis Clark, apresentou ao público o engenheiro Paulo Ferreira de Sousa Filho, que angariou simpatias populares com a séria promessa de solução do problema de energia elétrica de Teresina até maio de 1961. Esse ilustrado representante da Sudene, de uma hora para outra, passou a herói popular, herói lendário, após a solenidade da sua categórica afirmação. Atirou aos ombros o fardo pesado - e da responsabilidade que assumiu tem de dar contas, tem prazo certo, sem lembranças de desculpas esfarrapadas.

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O engenheiro Paulo Ferreira de Sousa Filho vivia práticamente ignorado do grande público, no desempenho da sua missão junto ao Governo do Piauí. Aceitou convite e estêve, a meu lado, num programa de rádio. Espontâneamente aquiesceu de evidência. Arrecadou com certeza simpatias gerais quando prometeu à população teresinense energia abundante no próximo mês mariano.

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Coube-me entrevistar o engenheiro Paulo Ferreira de Sousa Filho. Entreguei ao seu raciocínio de técnico perguntas e mais perguntas. Muitas tiveram respostas esclarecedoras. Outras não obtiveram do entrevistado argumentos sólidos e conformes à realidade piauiense. Mas o engenheiro, em tôdas as fases da palestra radiofônica, revelou conhecimentos seguros dos assuntos tratados, que ele expôs com clareza e inteligência. Algumas vêzes discordei das suas idéias, com observações sensatas e honestamente defendidas, mas não consegui convencê-lo.

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Nas palavras iniciais que dirigiu ao público, o engenheiro Paulo Ferreira de Sousa Filho revelou que se sentia apavorado naquela oportunidade de discutir comigo o assunto, uma vez que o nome do jornalista ganhara fama de impenitente censor e crítico dos homens da atual administração. Mostrei-lhe, então, que essa propaganda, feita por alguns, objetivava desculpar a fuga dos homens públicos piauienses dos debates limpos, claros, higiênicos, que a imprensa e as emissoras promovem com o fim de educar a população e, educando-a, convocá-la para ativa participação na vida pública.

Após os debates, satisfeito da oportunidade de que teve de defender as suas idéias e revelar a natureza dos trabalhos que vem realizando, o engenheiro Paulo Ferreira de Sousa Filho congratulou-se comigo e do seu espírito estavam desaparecidas as falsas impressões más que os amedrontados da claridade dos debates lhe haviam proporcionado.

Na realidade, compareço a programas de rádio num atendimento a gentilezas que recebo dos confrades Dênis Clark, Lopes dos Santos e Waldir Guimarães - e nêles, durante duas ou mais horas, não sou animado de outros propósitos senão daqueles que me empurram ao ideal de esclarecer, esclarecer muito, esclarecer quanto posso, o público ouvinte a respeito de questões vivas e palpitantes do interêsse da coletividade.

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No fim das contas, depois de 120 minutos de perguntas e respostas o engenheiro entrevistado acentuou as seguintes mais importantes providências que os poderes públicos estão tomando para solucionar o problema da energia elétrica nas duas principais cidades piauienses, Teresina e Parnaíba, com a participação do órgão federal chamado Sudene:

1) recuperação das três turbinas aqui existentes, com capacidade de 4.200 quiluotes, e instalação de mais outra máquina (2.500 quiluotes), adquirida em joão Pessoa.

2) providências idênticas em Parnaíba, com o aumento de 950 quiluotes.

3) no que diz respeito a Teresina, a recuperação das atuais máquinas e a instalação de outra fornecerão energia suficiente até 1965 numa estimativa sujeita a retificação.

4) Cogitam os órgãos administrativos de enviar dois funcionários do IAEE para curso de especialização no Sul do país.

5) a Sudene é a principal responsável pela restauração e instalação das máquinas. Concederá as verbas necessárias, com a condição de explorar, com o Governo do Piauí, a energia elétrica em Teresina e Parnaíba, através da CEPISA, sigla de Centrais elétricas do Piauí, Sociedade Anônima, da qual nãp participarão mais particulares. Tenho impressão de que haverá necessidade de modificações na lei que criou êsse organismo. Desaparecerá, como verifica o leitor, o IAEE, tolice do ilustre general Gaioso, a quem ainda não conseguiu perdoar.

6) o entrevistado não soube explicar quanto a Serva Ribeiro já recebeu para ampliar a rêde elétrica. Mas é verdade que a ampliação da Serva Ribeiro não atinge todos os pontos de Teresina. É restrita.

7) a substituição do combustível atual (lenha, muito pobre) por óleo poderá ser feita após a adoção de providências relacionadas com transportes. Êsse crime de alimentar caldeiras com as matas do Piauí e do Maranhão clama aos céus.

8) os poderes públicos pretendem instalar medidores de energia em todos os locais em que ela está sendo consumida.

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Interrogado a respeito do regime deficitário do IAEE, o engenheiro esclareceu que a Sudene e o Gôverno do Piauí adotarão providências no sentido de que a situação se normalize.

É necessário notar que o teresinense paga, na residência, Cr$ 4,00 por quiluote, cobrança extorsiva num serviço explorado pelos poderes públicos. Quem, no instante, desfruta de bens necessários (geladeira, ferros elétricos) paga 500 a mais cruzeiros mensais, numa terra em que a remuneração do trabalho público ou particular, com poucas exceções, varia entre três e quatro mil cruzeiros. Observe-se que no Estado da Guanabara, onde a energia é explorada por companhias estrangeiras, o quiluote custa, nas residências, Cr$ 1,10.

Das respostas que me deu o ilustre engenheiro Paulo Ferreira de Sousa Filho concluí que o Estado do Piauí não tem fôrças para resolver problemas de energia elétrica nas suas duas principais cidades. E para onde tem ido tanto dinheiro arrecadado? Fácil a resposta: compra de prédios, compra de jipes e camionetes de luxo, propaganda e mais propaganda jornalística e radiofônica, criação de cargos inúteis, gastos com dúzias de consultores e contrato de advogados, nessa inglória luta contra o Poder Judiciário e os direitos dos cidadãos - e mais convocações extraordinárias da Assembléia Legislativa, que já tem seis meses no calendário do ano para não fazer cousa alguma.

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Triste de um Estado da Federação que necessita do gôverno federal para comprar uma turbina já ousada e instalá-la na sede do gôverno.

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Está na berlinda o engenheiro Paulo Ferreira de Sousa Filho. Com êle, a Sudene. O povo contará dias até maio.

2

Em outubro, anunciei a queda do Dr. José Guilherme do Rêgo Monteiro, por exigência da Associação Comercial (Jorge Chaib). Era a véspera do Congresso Eucarístico. O Gabinete Civil de Carnaque desmentiu-me, em nota oficial. Escrevi que a referida Associação, autorizada pelo Governador, havia convidado o Sr. Cordeiro Neto. Fui desmentido. Aí está a resposta: Guilherme na planície, Cordeiro Neto na direção do IAEE.

3

O Secretário Edison Dias Ferreira compareceu na residência do Des. Pedro Conde (viajando) e comunicou que o Sr. Chagas Rodrigues não pode cumprir o mandado de segurança (relator Eurípedes Melo) que determinou fôsse paga diferença de vencimentos devida pelo Estado ao referido magistrado. Razão: falta de dinheiro. Mas o Procurador Anísio Maia recebeu a sua parte.

4

Um deputado estadual acaba de firmar contrato com o Estado do Piauí (aluguel de casa), apesar da proibição constitucional.

5

Entrevistei o jovem Leônidas Silva, Diretor do DAG, que deseja acertar e teve atuação meritória na última reunião da Sudene. Notas noutra edição.

6

Um grande abraço de aos bacharéis Bento Clarindo Bastos, Raimundo Reis, João Borges de Alcobaça e Paulo Mota, pelo convite que me mandaram, distintamente, para as solenidades de sua colação de grau. E com o abraço de uma mensagem de felicidades aos brilhantes colegas bacharéis de 1960 que tantas vitórias já obtiveram na vida social e intelectual do Piauí.

Também registro aqui minha gratidão à culta piauiense Marlene Neide Lopes de Carvalho, pelo honroso convite que me mandou para as solenidades de sua formatura pela Escola de serviço Social de Fortaleza.

Marlene defendeu tese, depois de um curso ainda mais brilhante.

7

Estou seguramente informado de que o Governador Chagas Rodrigues pretende enviar alguns consultores carnaquianos à planície.

8

O ilustrado confrade Luís Cunha e Silva publicou o seguinte a meu respeito, no "Jornal do Comércio", dia 13 do corrente:

"Nos artigos assinados, confesso, brilhante tem sido a atuação do jornalista A. Tito Filho no criticar os atos governamentais, com serenidade e clareza de raciocínio, nunca ferindo a reputação pessoal do criticado".

Consigno agradecimentos ao gesto do distinto Sr. Luís Cunha e Silva, velho lutador da imprensa piauiense, sempre fiel à boa causa de regeneração dos costumes políticos da terra.

Critico e censuro atos de autoridades, mas conheço os limites da boa imprensa, graças a Deus. Insultos e xingamentos são baixezas, que anulam a imprensa.

De mim, pessoalmente, nada tenho contra o Governador Chagas Rodrigues, cidadão, aliás, portador de excelentes virtudes pessoais. Combato, censuro e condeno os seus métodos políticos e administrativos. Ainda não pude compreender como o seu espírito de homem público pôde assinar um telegrama ao Supremo de desancamento aos dignos membros da justiça piauiense, arrolando-se, ainda, na correspondência, infantilidades de pintura de prédios.

OBSERVAÇÃO - Na última edição saiu isto nas "Lições dos outros":

"Oboé, que os incantos pronunciam...".

Escrevi assim:

"Oboé, que os incautos pronunciam..."

O leitor inteligente corrigiu o êrro da revisão, na certa.


A. Tito Filho, 18/12/1960, Jornal O Dia

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